DESTERRADA 2.0 - L'ARTIFICIALIA é o dispositivo tecnológico DRAG pelo qual deixo falar um ser ancestral chamado brasilys, que sucumbe e agoniza, enquanto arde a Amazônia. De suas chagas coloniais jorra sangue falso, um pigmento vermelho, que cobre todo seu corpo-território. Vermelho-Brasa. Uma árvore. Seu nome: pau-brasil.
Ser brasilys: presente.
Esta é uma evocação-lipsynk para celebrar meu gênero que está em chamas, exaltar a artificialidade da minha nacionalidade brasileira, uma poética do fracasso que é a minha identidade.
Nesse manifesto migrante/diaspórico proponho uma performance cênica que rompe com códigos estáveis e hegemónicos de uma arte heterocentrada, mesclando a drag, o cabaret, o post-porn para abrir um baile apocalíptico anti-patriarcal de gênero não conforme.
BREVE HISTÓRICO
Desterrada 1.0 - Oh Fortuna (2019) - Cuarto de Invitados (Madrid- ES) - residência artística/performance de carácter biográfico, na qual arquivos e documentos pessoais ficcionam um processo de ilegalização burocrática, onde a presença DRAG anuncia uma crise identitária, construindo narrativas e paisagens sensíveis, reconectando este processo a uma leitura poética.
Artificialia 2021 - Graner/Museo Etnográfico (Barcelona-ES) - residência artística/performace projecto curatorial e cénico em colaboração com o colectivo TEKNODRAG, que põe em relação as prácticas de corpo e de transformismo com o fundo patrimonial do Museu Etnológico de Barcelona. Uma performance site- specific a volta das construções identitárias e políticas.
Two Plants are Colliding 2021 (Roma-IT) - Lateral Galeria de Artes - residência artística/performance - processo compartido com Nicholas Von Kleist. Os mecanismos da arte DRAG denunciam a artificialidade das identidades de género, assim como a colonialidade das identidades nacionais a partir de projeções imagéticas, sonoras e textuais.
Artificialia Desterrada 2021 (Roma-IT) - Hacker Porn Festival - performance para o encerramento do Festival de Cinema Pós-porno Hacker Porn. A DRAG ativa a cena fronteiriça, a partir de uma estética onde a identidade nacional e o sentido de “brasilidade” se chocam com um discurso migrante/diaspórico que irrompe contra as categorias de uma geo-política de base colonial fazendo crítica poética à construção dos estados nações.
DESTERRADA 2.0 - L'ARTIFICIALIA é um dispositivo estético-político-sensível que ativa a investigação artística através das práticas DRAG. Também é a continuidade de uma investigação acadêmico- artística que se extende por anos, insistindo numa expressividade contra-hegemônica das corporalidades sexo-gênero dissidentes. E neste sentido se conecta com as produções das teorias QUEER e transfeministas decoloniales.
A estratégia que proponho para abordar as práticas DRAG desde um sentido contra-hegemónico, se conecta com as práticas contrasexuais de Paul Preciado, com as quais faço um paralelo: a melhor estratégia para no ser capturada pelos regimes de opressão e aparatos de controle social, não será reproduzindo seus códigos nem abandonando a cena dentro de um não fazer medíocre. Há que, assim como nas propostas contrasexuais de Preciado, gerar contra-métodos, contra-disciplinas, ou seja, outras práticas, formas alternativas, modos dissidentes que desvitalizem o poder vigente que mantem a DRAG subalternizada a contratos sociais cis-hetero-centrados.
DESTERRADA 2.0 - L'ARTIFICIALIA